sexta-feira, 9 de março de 2012

A mulher ou o tigre?

Este não é o tipo de história que eu costumo postar aqui. É grande (se comparada com as outras), mas é muito bacana. Vale a leitura.
De Frank R. Stockton; contribuição da minha amiga Simone.


Muito tempo atrás, existia um rei semibárbaro. Suas ideias, apesar de continuamente aperfeiçoadas e estimuladas pela rápida expansão dos seus vizinhos latinos, permaneciam primitivas, disparatadas e irrefreáveis, como se viessem de sua metade ainda bárbara. Era um homem de imaginação exuberante e, sobretudo, dotado de tão irresistível autoridade que, de acordo com sua vontade, suas fantasias se transformavam em fatos. Como era seu próprio conselheiro, bastava concordar consigo mesmo para que seus desejos se tornassem realidade.
Enquanto os membros dos seus sistemas doméstico e político se moviam suavemente na direção que o rei apontava, sua natureza era afável e cordial; porém, se surgisse um pequeno obstáculo e um dos seus satélites saísse da devida órbita, ele se mostrava ainda mais afável e cordial, pois nada o agradava mais do que desentortar o torto e alisar à força qualquer irregularidade.
Dentre as ideias importadas que tornavam seu barbarismo mais sofisticado estava a arena pública. Nela, através das exibições de coragem e força de homens e de feras, as mentes dos súditos eram refinadas e educadas.
Contudo, mesmo lá, os caprichos exuberantes e bárbaros se faziam presentes. A arena do rei era construída não para dar ao povo a chance de ouvir a rapsódia dos moribundos gladiadores, nem para dar a ele a oportunidade de testemunhar a inevitável conclusão de um conflito entre opiniões religiosas e mandíbulas famintas, mas sim para propósitos mais adaptados para ampliar e desenvolver as energias mentais das pessoas. Esse vasto anfiteatro, com galerias circundantes, subterrâneos misteriosos e passagens ocultas, era um agente de poética a mulher ou o tigre? justiça, onde o crime era punido e a virtude recompensada pela decisão do imparcial e incorruptível acaso.
Quando um súdito era acusado de um crime importante o suficiente para interessar ao rei, anunciava-se publicamente que num dia determinado a sorte da pessoa acusada seria decidida na arena real. A estrutura bem merecia esse nome, pois, ainda que sua forma e arquitetura fossem emprestadas de outrem, seu propósito emanava apenas do cérebro desse homem que, por conter a realeza em cada átomo de seu corpo, não defendia outra tradição que não a plena satisfação de seus caprichos, e que impunha a força de seu idealismo bárbaro a toda e qualquer forma de ação e do pensamento humanos.
Após a multidão se acomodar nas galerias e o monarca, rodeado pela sua corte, ocupar o camarote real, ele dava um sinal; em seguida, uma porta se abria e o súdito acusado era introduzido no anfiteatro. Do outro lado da arena, bem à sua frente, havia duas portas, absolutamente iguais em forma, dispostas lado a lado. Era dever e privilégio da pessoa sob julgamento encaminhar-se para as portas e abrir uma delas. O réu podia abrir a porta que desejasse: não estava sujeito a qualquer influência ou orientação, apenas ao supracitado imparcial e incorruptível acaso. Abrindo uma delas, surgiria um tigre faminto, o mais feroz e cruel que tivesse sido encontrado, que imediatamente se lançaria sobre ele e o faria em pedaços, como punição por seu crime. Nesse momento, em que o caso do criminoso fora assim decidido, os sinos soariam lugubremente, as carpideiras contratadas gritariam seus lamentos e a vasta audiência, com cabeça curvada e coração entristecido, tomaria o caminho de casa, desolada porque alguém tão jovem e belo, ou velho e respeitável, merecera um destino tão horrendo.
Porém, se a pessoa acusada abrisse a outra porta, dela sairia uma mulher, a mais adequada em idade e condição social que Sua Majestade pudesse selecionar entre suas belas súditas. O acusado e essa mulher casar-se- iam imediatamente, como recompensa pela sua inocência. Não importava que o acusado já tivesse esposa e filhos ou que estivesse comprometido afetivamente com alguém de sua escolha: o rei não permitia que qualquer compromisso anterior interferisse no seu grande plano de retribuição e recompensa. A cerimônia, assim como no caso da outra escolha, acontecia imediatamente na própria arena. Outra porta se abria sob o balcão do rei e surgia um padre, acompanhado por um balé de virgens soprando clarins dourados e por um coral entoando poemas epitalâmicos. O religioso e seu cortejo se dirigiam ao centro da arena, onde aguardavam o recém-julgado e a noiva prometida; o matrimônio era prontamente realizado e devidamente festejado. Em seguida, os sinos de bronze repicavam alegremente, as pessoas da audiência saudavam o casal com fervor incomparável, e o réu inocentado, precedido por crianças que espalhavam flores no caminho, levava para sua casa a jovem noiva.
Esse era o método semibárbaro escolhido pelo rei para exercer a justiça. Sua perfeita imparcialidade é óbvia. O criminoso não sabia que porta escondia a mulher: ele abria a que escolhesse, sem ter a mínima ideia se, no instante seguinte, estaria despedaçado ou casado. Em algumas ocasiões o tigre saía por uma porta, outras vezes pela outra. As decisões desse tribunal eram não apenas justas, mas também determinadas com clareza: a pessoa acusada seria instantaneamente punida se fosse considerada culpada; e se fosse inocente, seria recompensada no mesmo instante, quisesse ou não. Não havia como fugir aos julgamentos da arena do rei.
Essa instituição era muito popular. Quando os súditos se reuniam nos dias de julgamento, não podiam prever se testemunhariam uma sangrenta carnificina ou um alegre matrimônio. Esse elemento de incerteza emprestava um encanto especial à ocasião que, talvez, não fosse possível de outra maneira. Assim, as massas eram entretidas e satisfeitas, e a parte intelectualizada da comunidade não tinha como duvidar da imparcialidade dessa instituição: não estava nas mãos do próprio acusado a responsabilidade da escolha?
Esse rei semibárbaro tinha uma filha, tão florescente quanto seus mais ostentosos caprichos e com uma alma tão ardorosa e dominadora quanto a do monarca. Como geralmente acontece nesses casos, ela era a menina dos olhos dele, numa adoração que sobrepujava a de qualquer outro mortal. Entre seus cortesãos estava um jovem rapaz, com a nobreza de caráter e a deficiência de sangue azul tão comuns aos convencionais heróis de romance que se apaixonam por altivas princesas. A princesa real estava muito satisfeita com seu apaixonado, pois ele era o mais belo e corajoso jovem de todo o reino; e ela o amava com um ardor tão intenso que apenas o barbarismo de seu sangue poderia explicar.
Esse romance desenvolveu-se alegremente durante muitos meses, até o dia em que o rei descobriu sua existência. Ele não hesitou nem vacilou no cumprimento de seus deveres. O jovem foi imediatamente jogado na prisão, e foi marcado o dia para seu julgamento na arena real. Essa, sem dúvida, era uma ocasião especialmente importante, e o monarca, assim como seu povo, estava enormemente interessado nos preparativos e desenvolvimento desse julgamento. Nunca antes havia acontecido um caso semelhante; nunca antes havia um súdito ousado amar a filha de um rei. Em tempos posteriores, tais coisas se tornaram até bastante comuns; porém, naquele momento, a situação era nova e surpreendente.
As feras mais selvagens e implacavelmente cruéis do reino foram avaliadas para que dentre elas fosse selecionada aquela que estaria na arena. Todas as jovens donzelas do reino foram cuidadosamente analisadas por um grupo de competentes juízes, para que o jovem réu tivesse uma noiva adequada, no caso de ser esse o destino que o acaso lhe reservava. É lógico que todo mundo conhecia o motivo pelo qual o acusado seria julgado. Ele havia amado a princesa, e nem ele, ela ou qualquer pessoa pensaria em negar o fato; porém o rei não permitiria que qualquer fato desse tipo interferisse com os trabalhos do tribunal, que lhe davam tamanho prazer e satisfação. Independente do destino do romance, o jovem seria liquidado; e o rei demonstrava um prazer estético ao testemunhar o curso dos eventos, que determinaria se o jovem tinha ou não errado ao ousar amar a princesa.
O dia marcado chegou. Os súditos chegavam de todos os lugares do reino, amontoando-se nas galerias da arena; impossibilitada de entrar, uma multidão se apinhava do lado de fora, espremendo-se contra as grades e portões. O rei e sua corte ocuparam seus lugares, exatamente na parede oposta às duas portas - as duas fatídicas portas, tão terríveis em sua similaridade.
Tudo estava pronto. O sinal foi dado. Uma porta se abriu sob o camarote real, e o namorado da princesa entrou na arena. Alto, belo, loiro, sua entrada foi saudada com um audível murmúrio de admiração e ansiedade. Metade da audiência nem ao menos sabia que um rapaz de tão bela aparência havia vivido entre eles. Não era de se espantar que a princesa tivesse se apaixonado por ele! Que coisa horrível era, para ele, estar ali!
De acordo com o costume, o réu, ao entrar na arena, voltou-se para reverenciar o rei; entretanto, seu olhar não se prendeu à augusta figura do monarca. Seus olhos foram arrebatados pela princesa, sentada à direita do pai. Não fosse pela porção primitiva de sua natureza, é provável que a princesa nem estivesse ali; porém, sua alma intensa e fervorosa não permitiria que se ausentasse numa ocasião na qual estava tão terrivelmente interessada. Desde o momento em que havia sido decretado que seu amado teria a sorte decidida na arena, a moça não conseguira pensar em outra coisa, noite e dia, senão nesse grande evento e nos fatos a ele relacionados. Dotada de mais poder, influência e força de caráter do que qualquer outra pessoa, ela conseguiu o que ninguém conseguira antes - ela descobriu o segredo das portas. Ela sabia em qual dos cubículos atrás das portas havia sido colocado o tigre e em qual permanecia a futura noiva. Através das pesadas portas, recobertas internamente por grossas cortinas, era impossível ouvir qualquer barulho; nenhuma sugestão viria de dentro para a pessoa que se aproximasse para erguer o trinco de uma delas; entretanto, o dinheiro e o poder do desejo de uma mulher haviam revelado o segredo.
Não apenas a donzela real sabia em que recinto estaria a jovem prometida, pronta para surgir, toda corada e radiante, se sua porta fosse aberta, como também sabia quem era essa jovem. Uma das mais belas e adoráveis donzelas da corte fora a escolhida para ser a recompensa do rapaz acusado, caso fosse considerado inocente do crime de desejar alguém tão superior a ele. A princesa a odiava. Muitas vezes tinha visto, ou imaginava ter visto, essa bela criatura lançando olhares de admiração para seu amado, e acreditava que os olhares não somente eram percebidos como também retribuídos. Várias vezes os vira conversando, ainda que por apenas um instante; entretanto, muito pode ser dito em questão de segundos. Se o assunto era desimportante ou não, como poderia ela saber? A garota era adorável, mas havia ousado levantar os olhos para o amado da princesa; e, com toda a intensidade do sangue selvagem, herdado de uma longa linhagem de ancestrais bárbaros, ela odiava a mulher que enrubescia e tremia atrás daquela porta silenciosa.
Seu amado voltou-se na arena e olhou-a. Quando a viu, mais pálida e desolada que qualquer outro ser em meio ao vasto oceano de faces ansiosas que a rodeavam, ele percebeu, pelo poder de rápida percepção inerente a aqueles seres cujas almas são uma só, que ela sabia qual porta escondia o tigre e qual ocultava a mulher. Ele tinha certeza que ela descobriria. Ele compreendia sua natureza; sua alma acreditava que a princesa jamais descansaria até descobrir o segredo das portas, algo desconhecido por todos, até mesmo pelo próprio rei. A única esperança para o jovem estava baseada na crença de que a princesa conseguiria descobrir o mistério; e, no momento em que seus olhares se cruzaram, ele soube que ela havia atingido seu intento, exatamente como a alma do rapaz acreditava que ela o faria.
Nesse rápido e ansioso olhar, a pergunta "Qual?" foi feita. A indagação era tão clara para a princesa como se o jovem a tivesse gritado do meio da arena. O momento era preciso, não havia um instante a ser desperdiçado. A pergunta foi feita num átimo de segundo; a resposta teria que ser produzida em igual velocidade. Seu braço direito estava apoiado no parapeito almofadado à sua frente. Ela ergueu a mão, e fez um leve e rápido movimento para a direita. Ninguém, com exceção de seu amado, percebeu o discreto gesto. Todos os olhos estavam fixos no homem no centro da arena. Ele voltou-se, e com passos firmes e ligeiros atravessou o espaço vazio. No estádio repleto, cada coração perdeu o compasso, cada respiração foi suspensa, cada olhar imobilizou-se, acompanhando os movimentos do rapaz. Sem a menor hesitação, ele dirigiu-se à porta da direta, e abriu-a.
* * * * *
Agora, o desfecho da história é o seguinte: Quem a porta ocultava: a mulher ou o tigre?
Quanto mais refletimos sobre a questão, mais difícil nos parece a resposta. Ela envolve um estudo do coração humano, o que nos leva pelos tortuosos labirintos da paixão, dos quais a saída é sempre muito difícil. Analise de maneira imparcial, caro leitor, não como se a decisão dependesse de você, mas sim de uma princesa semibárbara de sangue quente, de sentimentos primitivos, com a alma dividida entre as chamas do desespero e do ciúme. Ela o perdera; porém, quem deveria ganhá-lo?
Quantas vezes, nas horas de insônia ou nos pesadelos, ela sofrera as agonias do horror e cobrira seus olhos em pânico ao pensar que seu amado pudesse abrir a outra porta e encontrar a sua espera as garras mortais do cruel tigre!
Entretanto, muitas vezes mais, ela o imaginara abrindo a outra porta! Quantas vezes, nos dolorosos devaneios, ela rangera os dentes e arrancara os cabelos ao imaginar os arroubos de felicidade do amado quando abrisse a porta que ocultava a linda jovem! Como sua alma se consumia de angústia ao imaginá-lo correndo ao encontro de tal mulher, com sua face corada de alegria e os olhos brilhantes de triunfo; quando o via conduzir a jovem, seu prêmio, com o coração transbordante de júbilo pela vida recuperada; quando ouvia os gritos de contentamento da multidão e o alegre ressoar dos sinos; quando imaginava ver o padre e seu festivo cortejo se aproximando do feliz casal para uni-los em sagrado matrimônio; e quando os via trilhando juntos o caminho recoberto de flores, acompanhados dos brados de felicidades da entusiasmada audiência - oh! e em meio a tudo isso, o que lhe restaria, senão um inútil e perdido gemido de desespero!
Não seria melhor que ele morresse de uma vez, e fosse esperar por ela nas abençoadas regiões de um paraíso semibárbaro?
Mas, apesar de tudo isso, a lembrança daquele tigre medonho, daquele rosnar feroz, daquele sangue!
Sua decisão fora manifestada num átimo de segundo, porém havia sido tomada após dias e noites de angustiada deliberação. Ela sabia o que lhe seria perguntado, ela havia decidido o que deveria responder e, sem a menor hesitação, movera sua mão para o lado direito.
As diferentes hipóteses que podem ser levantadas tendo em vista a decisão da princesa têm que ser consideradas cuidadosamente, sem leviandade nem precipitação. Não me considero a pessoa mais capacitada para responder. Portanto, deixo para você, leitor, esta pergunta: Quem saiu pela porta aberta: a mulher ou o tigre?

quinta-feira, 1 de março de 2012

O esconderijo das medalhas de ouro

Em um reino não muito distante – para vocês terem ideia, de avião, dá para chegar lá em algumas horas – existia um cientista muito famoso chamado Niels. Certo dia, ele recebeu uma encomenda especial. Eram duas medalhas de ouro de 23 quilates cada uma.
Elas pertenciam a dois cientistas, amigos de Niels, que viviam em um país vizinho. Lá, um imperador – um tanto desequilibrado - havia decidido que iria controlar o mundo. E qualquer um que dissesse que esta não era uma boa ideia, ele mandava matar. Pois bem, estes dois cientistas ousaram dizer ao imperador que a ideia não era lá grandes coisas. Resultado: foram obrigados a fugir e para que suas medalhas não fossem parar nas mãos do imperador, decidiram enviá-las para o amigo Niels.
Niels colocou as duas medalhas na estante de seu laboratório, ao lado de vários outros prêmios conquistados desde que ele era apenas um estudante. Tinha até o troféu da feira de ciências da escola.
Numa tarde, enquanto Niels trabalhava tranquilamente, Georgy, um de seus assistentes, abriu a porta com toda a força e, esbaforido, gritou:
- Soldados... soldados do imperador... estão chegando... num navio enorme... e estão armados... vão invadir e tomar conta de toda a cidade!
Niels levou um grande susto. Não acreditava que o tal imperador fosse realmente capaz de dominar o mundo, mas pelo visto, iria dominar a cidade onde vivia. Rapidamente, olhou para a estante e pensou:
- Tenho que esconder as medalhas dos meus amigos. São muito valiosas e os soldados, certamente, vão querer ficar com elas.
Começou a caminhar de um lado para o outro do laboratório, pensando como faria para escondê-las. Georgy, vendo a aflição de Niels, sugeriu:
- Cave um buraco no jardim e guarde-as lá. Ninguém nunca vai descobrir.
Mas Niels, na mesma hora, respondeu:
- Nas histórias de aventura o tesouro é sempre enterrado. Muito óbvio. Estes soldados vão escavar a cidade inteira atrás de coisas valiosas.
- Tive uma ideia, gritou Georgy. As medalhas são de ouro. Vamos então dissolvê-las.
- Ora, ora Georgy. Você sabe muito  bem que ouro é um metal nobre. Não se mistura, tampouco se dissolve facilmente.
- Sim, mas podemos usar a água mágica da rainha!
- Oh, como não pensei nisso antes, disse Niels. Temos a água da rainha. É tão poderosa que é capaz de dissolver o ouro. Se jogarmos as medalhas nesta água, elas vão parecer apenas um líquido colorido. Podemos, então, deixar na estante, junto com vários frascos cheios de fórmulas e misturas; os soldados nunca vão suspeitar que ali estão as medalhas. Rápido, vamos trabalhar. Temos pouco tempo.
A água da rainha era uma espécie de fórmula mágica e pouquíssimas pessoas tinham acesso a ela. Mas havia um frasco com a água no laboratório. Então, eles jogaram as medalhas lá dentro. Em instantes, havia ali apenas um líquido de cor laranja que foi colocado na estante.
Pouco tempo depois, os soldados do imperador invadiram o laboratório.
- Soubemos que você guarda aqui objetos de grande valor, disse um dos soldados. Não adianta tentar escondê-los. Nós vamos achá-los.
E então, começaram a revistar todo o laboratório. Abriram gavetas e armários, jogaram papeis para o alto, passaram os olhos pela estante e, como previsto, correram para o jardim e escavaram todo o terreno. Evidentemente, não encontraram nada!
Mas durante muitos anos, o reino foi ocupado pelos soldados e os cientistas não puderam entrar no laboratório. O imperador até tentou dominar o mundo, mas não conseguiu e assim, as coisas voltaram a ser como antes.
Niels e Georgy puderam finalmente retornar ao laboratório e, para sua surpresa, encontraram o frasco com o líquido laranja intacto em cima da estante.
Usando seus conhecimentos, conseguiram reverter o processo devolvendo o ouro ao seu estado sólido e ao seu formato original.
Foi então que os dois amigos de Niels, que tinham fugido no começo desta história, voltaram para casa e encontraram, esperando por eles, uma encomenda especial. As duas medalhas de ouro, de 23 quilates cada uma.

Esta história, recheada com um pouco de fantasia, é baseada em um acontecimento real. Para esconder dos nazistas as duas medalhas do Prêmio Nobel dos físicos alemães James Frank e Max van Laue, o físico dinamarquês Niels Bohr as colocou em água régia, único composto químico capaz de dissolver o ouro. A ideia foi proposta pelo químico húngaro Georgy de Hevesy. A água régia é um composto concentrado de ácido clorídrico e ácido cítrico, na proporção de 3 para 1.